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Arquitetura Neozelandesa, o equilíbrio entre a ação do homem e a paisagem natural
Atualmente, vivemos um momento no qual a quantidade de informações e referências muitas vezes é maior do que conseguimos processar. Um problema evidente, que tem transformado a prática de arquitetura de muitos estúdios em compilações de recortes descontextualizados, muitas vezes direcionados a padrões estéticos e não a soluções reais.
O fenômeno da globalização no campo da arquitetura, permitiu grandes feitos, a facilidade das comunicações, o desenvolvimento de técnicas e o compartilhamento de referências, entretanto essa internacionalização de modelos, nos leva a reprodutibilidade de projetos que, em sua maioria, não compreendem todas as condicionantes na qual o projeto está inserido. O lugar pode ser considerado uma força fundamental no processo de formação da arquitetura. Diante disso, observamos linhas de pensamento no campo arquitetônico que buscam se reconectar com os elementos naturais presentes e as características culturais específicas do local, não deixando os avanços tecnológicos de lado, propondo assim, uma nova forma de mediação entre o global e o local.
A arquitetura contemporânea brasileira ainda tem forte referência nos grandes nomes do modernismo, um reflexo disso é que o concreto continua sendo o material mais usual e acessível quando falamos em estruturas. Porém, nesse contexto atual de aceleração das informações, as questões ambientais se tornaram pautas primordiais e pedem uma atualização nesse cenário. Partindo dessas ideias para um panorama global, dentro de alguns movimentos da arquitetura contemporânea que buscam respostas mais rápidas e ecologicamente superiores, um ótimo exemplo pode ser observado na Nova Zelândia.
Esse país do outro lado do globo, constituído por duas ilhas, possui clima temperado e lindas paisagens que passam por montanhas congeladas, praias de areia clara, até campos e florestas. Na cultura neozelandesa, diversos elementos ligados a paisagem natural são reverenciados pela sociedade, seja para expressar aspectos simbólicos ou culturais. O país ainda tem como principal base econômica a pecuária e agricultura, criando uma conexão direta com o território e desenhando a paisagem de forma a criar uma interessante relação entre a estrutura natural e antrópica.
Nos últimos anos, alguns estúdios de arquitetura neozelandeses têm se destacado e apresentado respostas arquitetônicas conscientes que buscam equilíbrio entre o espaço construído e a paisagem. O movimento conhecido como Arquitetura Kiwi, é caracterizado por esse modo de pensar e fazer arquitetura que tem se desenvolvido recentemente no país, o termo kiwi advém de um pássaro nativo da região, como uma forma de se sentir pertencente a natureza, a paisagem é vista como uma extensão do próprio edifício, no qual nenhum elemento se sobrepõe ao outro, mas sim coexistem em harmonia.
A busca pelo equilíbrio também se dá pela maneira como os arquitetos procuram dinamizar o uso de tecnologias com a simplicidade e os materiais naturais locais, buscando sempre adaptar as tendências e avanços internacionais às condições da Nova Zelândia, como o clima e a geografia.
Suas premissas consistem em edifícios passivos, mais flexíveis e auto suficientes preparados para o futuro, que atendam às necessidades da redução do desperdício de recursos, o maior uso da pré-fabricação e da energia solar, com materiais e design mais sustentáveis. Um desses recursos é o uso da madeira de crescimento rápido de origem local, uma maneira de criar uma construção com baixo teor de carbono.
Um estúdio de referência atual, é o HERBST Architects, de Auckland, por projetarem espaços que maximizam o potencial de fluidez entre o interior e o exterior, aproveitando ao máximo suas paisagens vivas.
Em entrevista a respeito de um dos seus mais renomados projetos, a casa Under the Pohutukawa, os arquitetos comentam que a questão primordial do projeto, foi o local no qual estava inserido, coberto por árvores nativas e maduras, o edifício foi dividido em pequenos volumes, diminuindo assim a sua massa total, de modo que a própria paisagem ditava uma resposta sensível e poética para a forma.
Segundo os arquitetos, as áreas de estar foram projetadas para criar uma sensação entre o artificial e o natural, no qual o indivíduo tenha consciência do lugar e a paisagem que está habitando. No mais, os arquitetos defendem, de maneira contextualista, termo cunhado pelos mesmos, que os edifícios devem refletir sua localidade, manifestando um compromisso com o espírito local, e que o usuário necessita estar ciente da quantidade de recursos naturais que está utilizando em seu cotidiano.
Outro exemplo da arquitetura Neozelandesa, é o estúdio Belinda George Architetcs, também de Auckland, que busca na arquitetura soluções simples, funcionais e sustentáveis, com a premissa de satisfazer todos os requisitos e especificidades de seu contexto.
A Matapuori RD HOUSE, está inserida entre uma mata nativa e o mar, e todo o envolvimento do cliente com suas memórias vividas em meio aquela paisagem foi componente principal para o conceito do projeto. A sua forma semicircular fornece uma conexão entre as duas partes do terreno, e a sua circulação interna possui algumas interrupções, na qual o indivíduo é estimulado a se envolver com a natureza ao se mover de um espaço para o outro.
Outro projeto interessante, é a CLIFF House, obra vencedora do Southern Architecture Awards 2020, projetada por Mason and Wales Architects. A interpretação dos arquitetos resultou em espaços agradáveis, com grande flexibilidade dos ambientes, e sua circulação aumenta a sensação de deleite entre a vista interna e externa.
Por toda a obra, o cedro preto e o natural se compensam, e junto com o trabalho em metal, complementam a forma simples, porém elegante do edifício. E por fim, mas não menos importante, a sua inserção aninhada entre altos eucaliptos com vista para uma baía, fornece a casa uma presença despretensiosa, e a integridade da intenção do projeto fica evidente no cuidado para minimizar o impacto ao meio ambiente.