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A madeira como solução para as variações climáticas
Estações bem definidas são uma das principais características do sul do Brasil. Apesar de nosso país ser reconhecido como um paraíso tropical, repleto de praias e um clima predominantemente quente, a região Sul passa por invernos rigorosos, com temperaturas negativas e até mesmo neve em algumas ocasiões. É um cenário fantástico, as paisagens ficam lindas e o turismo de inverno vem se desenvolvendo a cada ano.
Em meio a toda essa atmosfera de contemplação que as estações frias nos proporcionam, uma outra questão se evidencia, a maioria das edificações no sul do Brasil possuem um padrão de construção completamente inadequado para o nosso clima, não atendendo a padrões básicos de conforto térmico. Os problemas gerados por essa situação vão além do desconforto, podem acarretar em problemas de saúde, como por exemplo, inúmeros casos de resfriados, alergias, infecções, entre outros problemas ocasionados pelas grandes variações de temperatura durante o ano. O ponto a ser ressaltado, é que ainda muitas pessoas passam por desconfortos em relação a temperatura dentro de suas próprias casas.
Fica então a pergunta, é possível construir uma casa confortável e termicamente eficiente no sul do Brasil? Temos tecnologia com preço acessível pra isso? Sim, há uma série de estratégias projetuais utilizando a madeira que possibilitam a construção de casas mais confortáveis e adaptadas ao nosso clima.
A madeira é um material com baixa condutividade térmica, ou seja, a velocidade com que o calor se desloca no material é mais lenta comparada a outros materiais. A prova disso é que quando acendemos um fósforo não nos queimamos, mesmo segurando o palito a uma distância curta em relação ao fogo.
No Brasil, infelizmente, ainda há uma visão de que as casas de madeira possuem baixo padrão de qualidade, tal pensamento persiste por conta de edificações construídas de maneira inadequada, sem métodos específicos, com poucos recursos e sem o acompanhamento de profissionais habilitados, resultando em vedações sem isolamento, com frestas e aberturas inapropriadas.
Atualmente um dos métodos mais utilizados para construir em madeira é o sistema woodframe, essa técnica, de acordo com pesquisas, surgiu na América do Norte por volta do século XIX, sendo até hoje o sistema construtivo mais utilizado por lá. É também utilizada com frequência no Canadá, na Europa e em alguns países da América do Sul, como o Chile. Lembrando que o frio no hemisfério norte é ainda mais rigoroso que o nosso, ou seja, há décadas as edificações de madeira vem se provando muito eficientes em temperaturas extremas.
Qual o segredo das construções em woodframe?
Esse sistema consiste em esqueleto de madeira que permite um preenchimento interno por Isolamento Termoacústico de lã de rocha ou vidro, depois temos as placas de OSB, uma membrana hidrófuga na face externa e por fim acabamentos nas faces interna e externa. Todo esse conjunto garante que a temperatura do interior da casa seja mantida por muito mais tempo pois as paredes ficam completamente vedadas e isoladas.
Além de todo o ganho em eficiência, as casas de madeira com este método são construções rápidas, sustentáveis e com pouquíssimo desperdício.
Outro fator determinante no conforto térmico é o uso adequado das esquadrias. Temos disponíveis hoje no mercado brasileiro basicamente quatro métodos: Vidro temperado (sistema blindex), Esquadrias de Alumínio e vidro, Esquadrias de PVC e vidro e por fim Esquadrias de Madeira e vidro.
O vidro temperado é menos eficiente por conta de não utilizar caixilhos e deixar frestas e locais mal vedados. As esquadrias de alumínio são uma opção melhor que o vidro temperado com sistema blindex, mas também deixam a desejar na vedação. As esquadrias de PVC se saem melhor por utilizarem um método de vedação e travamento mais elaborado, temos ainda a opção de adicionar o vidro laminado, que nos proporciona ainda mais isolamento termo-acústico. As esquadrias de madeira e vidro variam muito de fabricante para fabricante, mas também podem ser uma boa opção.
Outra estratégia interessante é utilizar duas camadas de fechamento nas nossas aberturas, um exemplo disso são as janelas com venezianas ou faces fechadas de madeira. isso faz com que exista uma membrana a mais na casa, pois o vidro simples não é um bom isolante térmico.
Temos ainda o vidro duplo ou triplo, muito eficientes em situações extremas, porém muito dispendiosos no mercado brasileiro
Grandes faces de vidro e grandes aberturas podem ser interessantes ao primeiro olhar, mas também representam um risco ao conforto térmico e ao orçamento de uma edificação, já que são um dos itens mais caros de uma obra. Se mal orientadas ou com pouca vedação, geram problemas sérios tanto no inverno como no verão. Uma boa estratégia é dimensionar e posicionar as esquadrias de maneira eficiente, aproveitando os visuais, dimensionando a iluminação e a ventilação natural, sem excessos.
No caso das temperaturas baixas, outro sistema interessante é a utilização de um calefator à lenha, um equipamento com ótimo custo benefício que aliado a uma casa com isolamento adequado garante bons resultados. Outros modelos de calefatores podem utilizar gás, óleo ou eletricidade porém, são mais difíceis de encontrar no mercado nacional.
Temos ainda o aquecimento de piso, onde uma serpentina metálica é instalada no contrapiso e conectada ao sistema de aquecimento.
As lareiras a gás ou a lenha também são consideradas opções interessantes e de fácil execução. Encontramos inclusive inúmeros modelos de lareiras pré-fabricadas que só necessitam de instalação.
Já no verão, onde temos altas temperaturas, quais são as estratégias? Uma casa com bom isolamento será mais eficiente também em situações de calor, mas devemos nos atentar a outros pontos.
A utilização de grandes beirais e varandas cria um interstício de sombra, o qual não permite que o sol incida diretamente nas paredes, se bem posicionado esse filtro sombreado tem papel importante no resfriamento da casa e também é muito eficiente nos períodos de chuva.
Elevar a casa do solo, é um outro ponto interessante nesse contexto, essa técnica mantém a umidade afastada do piso, isso ajuda na conservação dos elementos construtivos.
Outra técnica interessante é a utilização da ventilação cruzada, uma estratégia para renovar o ar no interior da casa, bem como aberturas que promovam o ‘’efeito chaminé’’, levando em consideração que o ar quente é mais leve e sobe para as partes mais altas do telhado.
Bons exemplos de arquitetura subtropical podem ser encontrados na Austrália e Nova Zelândia, o clima nessa região se assemelha muito ao do sul do Brasil, estúdios como Herbst Architecture, Belinda George Architects utilizam madeira, grandes beirais, varandas e brises em uma arquitetura contemporânea e consciente.
Toda essa gama de materiais e sistemas pode criar um ambiente agradável e adaptado ao nosso clima subtropical, mas o que garante o bom funcionamento de todo esse conjunto de estratégias está diretamente relacionado a um projeto de excelência, com profissionais especializados. Então sempre que pensar em construir no sul do Brasil, procure um arquiteto que leve em consideração nosso clima, todas as suas condicionantes, potencialidades e particularidades.